O Crátilo é o texto que funda da discussão
filosófica sobre a linguagem. Escrito no século V a.C. esse diálogo apresenta apenas três personagens: 1) Crátilo, filósofo que tem
uma compreensão naturalista da linguagem, 2) Hermógenes, que a princípio tem
uma visão convencionalista em relação à linguagem e, por último, Sócrates, ou
melhor, o Sócrates platônico, pois neste momento de sua obra é “Platão que fala
pela boca de Sócrates”.
Neste diálogo Crátilo
e Hermógenes representam os dois pólos extremos e, por conseguinte, em conflito
de pensamento. Crátilo defende a tese de que os nomes ou são verdadeiros, ou
não são nomes de qualquer espécie. Para ele, ou uma palavra é a expressão
perfeita de uma coisa, ou é apenas um som articulado.
Por sua vez,
Hermógenes defende que o ato de nomear, de dar nomes aos objetos, é
convencional. Para ele os nomes podem ser dados arbitrariamente de acordo com
os interesses e valores sócio-culturais envolvidos. Já Sócrates surge como a
alternativa a estes dois pólos antagônicos. Segundo ele, o objetivo da
especulação sobre a linguagem não é demonstrar se a mesma é natural (posição de
Crátilo) ou convencional (posição de Hermógenes), mas que tem uma dimensão
natural, no sentido que há categorias universais e metafísicas a serem
observadas, e, ao mesmo tempo, convencional, visto que a mesma está ligada à
diversidade das atividades sócio-culturais do ser humano.
Para Platão, o discurso é de "natureza
híbrida, verdadeira e falsa ao mesmo tempo". Assim os nomes são
simultaneamente por natureza e por convenção. Sendo os nomes, nessa fase do
pensamento linguístico de Platão, a essência do dizer, da linguagem, esse é o
pressuposto necessário implicado pelo dogma platônico de que o conhecimento
humano é possível e de que a linguagem tem propriedades que permitem ao mesmo
tempo a enunciação do verdadeiro e do falso. Na visão platônica da palavra, tem
uma função de representação do inteligível, assim, as duas teses contrárias
convergem e são superadas, tendo ambas algo do verdadeiro. Desse modo, a
linguagem, enquanto instrumento, tem o seu papel no aprimoramento do intelecto
e é um meio na busca do conhecimento da essência. Por fim, é preciso afirmar
que Platão aceita de forma parcial a tese apresentada pelos sofistas, ou seja,
de que o conhecimento é uma produção sociocultural. Dessa forma, a linguagem
emerge como uma consequência dessa produção. Ele não nega a dimensão
sociocultural para a produção do conhecimento e da linguagem. Entretanto,
termina o diálogo apontando para a existência da teoria das ideias ou formas, a
qual emerge como um lugar seguro para explicar a origem e a função da
linguagem.