terça-feira, 5 de julho de 2011

PAIDÉIA e ARETE A formação do Homem Grego


Janeilson Carlos Damasceno

O presente trabalho tem como objetivo geral contribuir para um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, com o objetivo de perceber possíveis relações com a educação de hoje. Para tanto, pretende-se desenvolver uma pesquisa bibliográfica, levantando dados históricos da evolução da educação na Grécia, bem como, os ideais de educação daquela época, como por exemplo, a Paidéia e a Arete. O Homem é um ser histórico e por si só, cultural, partindo desde as culturas mais antigas, desde o aparecimento do homem, o pensamento grego é um marco na evolução humana, influenciando todo o ocidente. A reflexão sobre educação, permite dissertar que; educação é um processo em construção permanente, e o homem como um ser cultural, é um ser que se educa constantemente,

A História da Educação, não estuda o passado pelo passado, como coisa morta, mas utiliza esse conhecimento do passado como uma “chave” para entender o presente. O estudo da História da Educação, servi para encontrar o caminho de uma educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do homem e sua realização como cidadão. A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais povos do mundo antigo. Os gregos colocaram a razão acima dos seus mitos e a utilizaram como instrumento a serviço do próprio homem. Os gregos glorificavam o homem como o ser mais importante do universo.

Os atenienses acreditavam que sua cidade-estado iria tornar-se a mais forte se cada menino desenvolvesse integralmente as suas aptidões. O governo não controlava os alunos e as escolas. Um garoto ateniense entrava na escola aos seis anos e ficava sob os cuidados de um pedagogo que ensinava aritmética, literatura, música escrita e educação física; o aluno decorava muitos poemas e aprendia a fazer parte dos cortejos públicos e religiosos. As meninas não recebiam qualquer educação formal, mas aprendiam os ofícios domésticos e os trabalhos manuais com as mães. O principal objetivo da educação grega era preparar o menino para ser um bom cidadão. Os gregos antigos não contavam com uma educação técnica para preparar os estudantes para uma profissão ou negócio.
O conceito de Arete aparece como primeiro ideal educativo formulado pelos gregos. É em Homero e nos chamados poemas homéricos, a Ilíada e a Odisséia, que tal ideal educativo aparece originalmente formulado. Já no final da época arcaica, não bastava cobrir-se de honra e glória, como nos tempos homéricos, mas pretendia-se alcançar a excelência tanto no plano físico como no plano moral. Neste tempo aparece a figura do pedagogo, ou seja, do escravo que acompanhava o menino à escola e que vigiava o seu comportamento moral. Porém, este ideal educativo não ficava restrito à escola; a cidade continuava educando nas reuniões políticas, administrativas e jurídicas, nos jogos, nas artes, na arquitetura e nas representações dramáticas. Em nenhum lugar da Grécia o teatro era só para privilegiados, era a escola de todos os cidadãos.

A educação grega tinha duas finalidades: o desenvolvimento do cidadão fiel ao Estado e a formação do homem que adquiriu plena harmonia e domínio de si. Porém a educação grega também tinha uma finalidade cívica, ou seja, a educação é uma preparação para a cidadania. Para eles, o habitante da polis só é o que é porque vive na cidade e sem ela não é nada. Nesse sentido, é evidente que o homem é um animal político e como falou Aristóteles, o que difere o homem dos outros animais é sua qualidade de cidadão e habitante da polis. Essa consciência da cidadania faz sentir a necessidade de uma nova educação, pois a antiga, composta somente por ginástica e música, já não servia para a formação do cidadão e nem correspondia às novas exigências sociais e políticas. Por exemplo, a forma democrática de organização do Estado Ateniense, exigia a participação de todos os cidadãos, ou seja, homens livres e para que esses cidadãos participassem, era necessário ter eloqüência e uma boa formação oratória.

Neste contexto surgem os sofistas, uma nova estirpe de educadores que se apresentam como professores e que oferecem, a troco de dinheiro, o ensino da virtude e da Arete política. Os sofistas transformaram a educação em uma arte ou técnica, na qual eles são mestres e capazes de ensinarem aos seus alunos. Estava incluída neste tipo de educação a formação de homens de Estado e de dirigentes da vida pública. E para que esses homens atingissem êxito político, eles precisavam falar bem, construir discursos persuasivos e ter bons argumentos que justificassem suas posições. Era preciso dominar a arte sofística da oratória, da retórica e da dialética. Por isso os sofistas foram acusados de ensinar uma educação imoral e que corrompia a juventude, posto que, esta educação desconsiderava os valores tradicionais: verdade, justiça, virtude, retidão, etc. Pois para os sofistas não importava que a idéia que eles estivessem defendendo estivesse errada, o que importava era convencer pela oratória.


Durante os séculos V e VI a. C a cultura grega, impulsionada pelas transformações sociais e econômicas, sofre mudanças. Surgem novos grupos sociais ligados ao comércio, estes reclamam uma maior participação na vida política da Grécia. Ao lado disso, surge uma cultura mais crítica em relação ao saber religioso e mítico, que exalta a razão pessoal de cada indivíduo e é capaz de submeter à análise qualquer crença ou tradição. Para transmitir essa nova cultura, nasce um novo ideal de educação na Grécia, conhecido como Paidéia, que busca a formação do homem em suas várias esferas (social, política, cultural e educativa. Essa educação atribui ao homem, sobretudo, uma identidade cultural e histórica. Nasce a pedagogia como saber autônomo, sistemático e rigoroso; nasce o pensamento da educação como episteme; e não mais como ethos e como práxis apenas. A Paidéia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. O termo também significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Assim, ela significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e que brota da idéia.

O termo Paidéia não pode ser traduzido simplesmente como educação, significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e formação do homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se alargou e passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação. Enfim, a Paidéia, é a busca do conhecimento do homem, de forma individual, para que este possa interferir na organização política e social da pólis, a idéia principal é colocar o homem a par de todo o conhecimento necessário para a harmonia consigo próprio e com a comunidade ao seu redor.
A educação formal, propriamente dita, teve início na Grécia antiga. Com intuito de atingir o objetivo deste trabalho é possível indicar alguns traços característicos da cultura grega que proporcionaram o desenvolvimento do ensino, tipo: o descobrimento do valor humano, do homem em si, da personalidade, o reconhecimento da razão, da inteligência crítica, a criação da vida cidadã, do Estado, da organização política. A criação da liberdade individual e política dentro da lei e do Estado; a invenção da poesia épica, da história, da literatura dramática, da filosofia e das ciências físicas; o reconhecimento do valor decisivo da educação na vida social e individual; da educação pública a consideração da educação humana em sua integridade física, intelectual, ética e estética.

Todas essas características anteriormente citadas continuam sendo metas a serem atingidas pela educação atual. Assim, espera-se que esse trabalho possa ter colaborado para a efetivação de um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega a partir do contexto histórico-social que a influenciou e determinou sob a perspectiva de que, sendo a educação uns produtos humanos e históricos, pudessem perceber a educação atual como parte do desenvolvimento histórico. Paidéia é, talvez, entre todas, a maior e mais original criação cultural do gênio e do espírito gregos e que ainda hoje é pertinente à educação do homem atual, é modelo a ser seguido por todos aqueles que entenderem a educação como prática da liberdade. Enfim, em matéria de educação, os gregos não só definem o modelo, como, indicam a pedagogia a seguir. Por tudo isso, somos levados a concluir que uma história da educação, com sentido e significado para nós, para a nossa realidade educativa atual começa na Grécia Antiga.

BIBLIOGRAFIA:
JAEGER, Werner wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. – 4ª ed. – São Paulo; Martins Fontes, 2001.

Um comentário: