segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Crátilo

O Crátilo é o texto que funda da discussão filosófica sobre a linguagem. Escrito no século V a.C. esse diálogo apresenta apenas três personagens: 1) Crátilo, filósofo que tem uma compreensão naturalista da linguagem, 2) Hermógenes, que a princípio tem uma visão convencionalista em relação à linguagem e, por último, Sócrates, ou melhor, o Sócrates platônico, pois neste momento de sua obra é “Platão que fala pela boca de Sócrates”.


Neste diálogo Crátilo e Hermógenes representam os dois pólos extremos e, por conseguinte, em conflito de pensamento. Crátilo defende a tese de que os nomes ou são verdadeiros, ou não são nomes de qualquer espécie. Para ele, ou uma palavra é a expressão perfeita de uma coisa, ou é apenas um som articulado.


Por sua vez, Hermógenes defende que o ato de nomear, de dar nomes aos objetos, é convencional. Para ele os nomes podem ser dados arbitrariamente de acordo com os interesses e valores sócio-culturais envolvidos. Já Sócrates surge como a alternativa a estes dois pólos antagônicos. Segundo ele, o objetivo da especulação sobre a linguagem não é demonstrar se a mesma é natural (posição de Crátilo) ou convencional (posição de Hermógenes), mas que tem uma dimensão natural, no sentido que há categorias universais e metafísicas a serem observadas, e, ao mesmo tempo, convencional, visto que a mesma está ligada à diversidade das atividades sócio-culturais do ser humano.

Para Platão, o discurso é de "natureza híbrida, verdadeira e falsa ao mesmo tempo". Assim os nomes são simultaneamente por natureza e por convenção. Sendo os nomes, nessa fase do pensamento linguístico de Platão, a essência do dizer, da linguagem, esse é o pressuposto necessário implicado pelo dogma platônico de que o conhecimento humano é possível e de que a linguagem tem propriedades que permitem ao mesmo tempo a enunciação do verdadeiro e do falso. Na visão platônica da palavra, tem uma função de representação do inteligível, assim, as duas teses contrárias convergem e são superadas, tendo ambas algo do verdadeiro. Desse modo, a linguagem, enquanto instrumento, tem o seu papel no aprimoramento do intelecto e é um meio na busca do conhecimento da essência. Por fim, é preciso afirmar que Platão aceita de forma parcial a tese apresentada pelos sofistas, ou seja, de que o conhecimento é uma produção sociocultural. Dessa forma, a linguagem emerge como uma consequência dessa produção. Ele não nega a dimensão sociocultural para a produção do conhecimento e da linguagem. Entretanto, termina o diálogo apontando para a existência da teoria das ideias ou formas, a qual emerge como um lugar seguro para explicar a origem e a função da linguagem.