terça-feira, 5 de julho de 2011

Síntese: A CABEÇA BEM FEITA (repensar a reforma, reformar o pensamento) Edgar Morin


Janeilson Carlos Damasceno
A CABEÇA BEM FEITA
Repensar a reforma, reformar o pensamento
Edgar Morin.

O amadurecimento da idéia de Morin nesse livro se deu a partir da necessidade que ele começou a sentir cada vez mais de uma reforma no pensamento, mas que do ponto de vista dele só seria possível a partir de uma reforma no ensino.
Um dos conceitos chaves para Morin é o da complexidade; um dos principais pontos no seu pensamento é de que só através da educação, que vai alem da mera transmissão de conceitos é que alcançaremos a felicidade, ou como ele diz, “viver a parte poética de nossas vidas”.
Toda a sua discussão é em torno da reforma do ensino para a educação do século XXI, esta educação esta baseada em uma necessidade da humanização do ser humano, a educação do futuro necessita sim resgatar o que é o ser humano e quais as qualidades, características, ações que lhes confere esta condição.
Morin coloca a questão da hiperespecialização que impede de ver o global, bem como o essencial. Com a hiperespecialização os problemas são estudados cada vez mais isolados, específicos e particulares, deixamos de analisas as influencias que estes problemas sofrem exteriormente. Deste modo, o problema fica isolado, não solucionados e analisados corretamente. Aqui entra a falta da complexidade na analise dos problemas estudados particularmente.
Os especialistas deixam de ver o todo e as relações existentes neste todo; a visão e a razão tornam-se fragmentada, criam-se verdades ilusórias. Precisamos voltar-mos para a complexidade, entender os sistemas, ter um olhar sistêmico do nosso mundo. Cada sistema é formado por subsistemas que interagem e se inter-relacionam. A contextualização é uma importante ferramenta no aumento do conhecimento, pois a partir do momento em que todos os campos dos saberes estão relacionados podemos ver diferentes faces do mesmo problema, e que todas estas faces interagem e tem suas parcelas de culpa na geração do problema ou são nelas que os problemas atuam.
É preciso pensar o problema do ensino, considerando os efeitos graves da compartimentação dos saberes e da capacidade de articulá-los, uns aos outros; e considerando a aptidão para contextualizar e integrar, é uma qualidade fundamental da mente humana, que precisa ser desenvolvida. Para Morin uma cabeça bem feita é aquela que em vez de acumular o saber precisa dispor ao mesmo tempo de uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas; princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.
No capitulo intitulado a condição humana, Morin enfatiza a importância de sabermos, a nossa verdadeira condição, enquanto seres terrestres, de onde viemos, qual é o nosso local no universo, o surgimento da vida, para onde vamos etc. ele ainda aponta a Cosmologia, Ciências da terra, Biologia, Ecologia como as ciências capazes de situar a dupla condição humana: natural e metanatural. Reforçando o fato da grande complexidade que é o ser humano, totalmente biológico e totalmente cultural.
Morin aponta a ética da compreensão humana, como uma das condições mais relevantes da sua obra, ele coloca que no cenário atual existe uma incompreensão generalizada entre todas as esferas da sociedade. Morin propõe como solução estudos interdisciplinares aliando a Pedagogia, Filosofia, Psicologia, Sociologia, Historia que serviriam para trazer a lucidez e a compreensão de que somos humanos. Temos mecanismos de egocentrismo e de auto-justificação, através da percepção disto seria mais fácil trabalhar contra o ódio e o racismo, por exemplo.
Morin mostra que devemos aceitar o destino incerto de cada um e de toda a humanidade, dessa forma coloca três princípios de incerteza no conhecimento. O primeiro é o cerebral: o conhecimento nunca é reflexo do real, mas sempre tradução e construção. O físico: o conhecimento dos fatos é sempre tributário da interpretação. O epistemológico: decorre da crise dos funda mentos da certeza, em filosofia e ciência. Devemos viver com a incerteza em todos os momentos de nossas vidas.
Nos dias atuais o mais importante para educação é o que ela esta assumindo no sentido de estar formando cidadãos no sentido mais amplo. Morin menciona a necessidade de atitudes como responsabilidade e solidariedade com a pátria, entretanto esta pátria é formada por um Estado, consequentemente por uma sociedade ou comunidade que também são formados por seres humanos. Quando ele fala em “aprendizagem cidadã” verifica-se a urgência de que o homem volte a humanizar-se, precisa resgatar atitudes de responsabilidade e solidariedade não só com sua pátria mais principalmente com seus semelhantes.
Morin explica como seria a educação de acordo com as propostas que ele menciona em todos os capítulos, para os três graus de ensino. No primeiro seria estimulado o questionamento, que nesta época do desenvolvimento do ser humano é natural, e alem disso, Morin coloca a necessidade de ensinar a importância da contextualização em todos os sentidos. No secundário, deveria ser o momento da aprendizagem do que deve ser a verdadeira cultura e é claro, entender a cultura que realmente existe. No ensino universitário, Morin propõe que a universidade continue com seu papel de conservação, transmissão e enriquecimento do patrimônio cultural, mas o ponto fundamental é que o conteúdo a ser conservado e transmitido seria outro, seria um conhecimento adequado e adaptado as reais necessidades da sociedade, um conhecimento interdisciplinar.
Morin mostra que a reforma do pensamento não é uma idéia que esta surgindo somente agora, mas que já tem suas bases na cultura da humanidade, na literatura e na filosofia, e é preparada nas ciências. E de que modo seria este pensamento? Para Morin existe necessidade de um pensamento: que compreenda que o conhecimento das partes depende do conhecimento do todo e que o conhecimento do todo depende do conhecimento das partes. Que reconheça e examine os fenômenos multidimensionais, em vez de isolar, cada uma de suas dimensões. Que reconheça e trate as realidades, que são solidárias e conflituosas. Que respeite a diferença, enquanto reconhece a unidade.
A discussão mais interessante que Morin faz é a respeito da inter-poli-transdisciplinaridade. Ele enfatiza que a interdisciplinaridade não é meramente a união de disciplinas mas cada uma discutindo o objeto separadamente. Na verdade a interdisciplinaridade propõe uma nova posição por parte do ser humano, uma atitude humanizada.
A urgência da humanização do homem e a interdisciplinaridade que ao mesmo tempo é caminho e fim para se atingir a humanização do homem e a reforma do pensamento. A interdisciplinaridade traz quatro conceitos que Morin menciona sobre o que é e como seria este novo pensamento, a questão da complexidade e da contextualização. Nela não existe lugar para pré-conceitos, para a descontextualização, para a falta de discussão, para o egocentrismo. E aqui esta o grande problema, ou o grande desafio a ser superado, deixamos o “eu” um pouco de lado e passamos a utilizar e a viver um pouco mais “nós” em nossa vidas, na escola, na universidade, no seio de nossas famílias...

BIBLIOGRAFIA:
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento; tradução Eloá Jacobina, 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

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